28 fevereiro 2009

Outra visão (The Reader)


Depois de 27 anos sem escrever, perturbada com meu ganha pão, cá estou eu.

Incitada pelos amigos que já viram todos os filmes que concorreram à estatueta este ano, me atiro novamente ao vício prazeroso das salas de cinema.

Hoje me encontrei num reformado e digital Alameda, com os mesmos pirralhos, mas companhias diferentes. Fui ver um filme que fala sobre o nazismo com alemães do lado.

Kate Winslet

Não preciso dizer muita coisa além disto, mas não posso omitir o soco no estômago que levei esta noite.

A primeira sensação foi a de um personagem frio, calejado pelos tantos amores da vida. E os tantos amores se resumiram numa alemã que falava um perfeito inglês britânico, hábitos quietos e singelos, um coração desafiador.

A princípio eu não soube o que pensar desta ariana. A gentileza de ajudar um garoto que passava mal e a brutalidade de seus gestos causou estranhamento no início. Porém, mais tarde, ela se mostrou não mais do que humana, ao afirmar, sem conseguir pronunciar as palavras, que realmente amava o moleque. E aquele amor de verão, típico de besteirol americano, se mostrou uma das mais belas histórias sobre o holocausto já vista na história do cinema.

Ápices:

-Hanna aprendendo a ler: afora a sensibilidade da situação, a cena foi delicada, linda. Simplesmente adorável.

- As “leituras”: sibilando entre a frieza, a raiva e o amor profundo e escandalizado, Michael tem sua grande catarse ao gravar a leitura dos livros para Hanna. A montagem da cena e sua sensação de simultaneidade imprimem um ritmo quase enlouquecedor à trama, que tem uma narrativa quase arrastada, mas não pedante (entendam!)

- A maquiagem: e o choque que ela causa ao percebermos a distância dos mundos de Michael e Hanna 20 anos de prisão depois.

- O jovem advogado: o momento mais forte e que nos causa maior aversão às atitudes de Hanna durante o Holocausto vem com a argumentação do colega de classe de Michael que diz, em outras palavras, que não podia compreender como os alemães não sabiam o que estava se passando. E sua revolta maior era que quando os alemães souberam de tudo, eles não tinham se matado em vista das barbaridades cometidas. Um tipo de questionamento que eu sempre me fiz. E, sem encontrar resposta, sempre tive a sensação de que alemães são todos frios e absolutamente insensíveis. Opinião preconceituosa que caiu por terra quando vi, do meu lado no cinema, dois alemães se debulharem em lágrimas.

Nem tudo está perdido!

(The Reader, EUA/Alemanha, 2008, Stephen Daldry)

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