18 janeiro 2008

Família com problemas (Troubled Waters)


Quando vi o filme na locadora, achei que os detetives fossem achar a menina afogada num rio perto de casa. Você sabe, eu não esperava um final feliz. Julguei que Jennifer Beals, depois do sucesso de The L World (leia-se: série inusitada e de extrema audiência e respeito) saberia escolher seus papéis como a boa atriz e produtora que é e, diga-se de passagem, ótima fotógrafa. Inusitado porque, acredito, ninguém esperava que um seriado sobre lésbicas ia dar tanto ibope e ser tão respeitado quanto é.

Waters, no entanto, era o nome da naturalmente perturbada família, cuja filha de 5 anos fora seqüestrada enquanto o pai viajava e a mãe dormia. O pai está fazendo um negócio de mais de 100 milhões de dólares; a filha, regardless; e a mulher, sem o “ar da graça” há semanas. Um família problemática, com certeza!

Devo dizer: ainda bem que a menina não teve participação maior no filme. Completamente sem expressão e sem direção. Parece que não se importaram com aquelas cenas: “era só colocar a menina lá, pois a compaixão é inevitável e previsível”. Acontece que este tipo de cena, que pretende marcar a relação pai/filha, mãe/filha, pai/mãe, são extremamente importantes quando se quer fazer um filme sobre a família. John Stead merece um puxão de orelha por isto!

Thriller interessante e inteligente. Ótimas atuações e direção, exceto pela menina. Chamo a atenção para a cinegrafia e fotografia, sempre dando deixas do que viria a seguir. È difícil em Hollywood achar um filme que seja realmente inteligente, isto é, um filme em que o diretor não acha que você é estúpido o suficiente para deixar tudo na cara ou faz de você um estúpido por não conseguir descobrir o que está acontecendo. O que é uma linha tênue, na verdade.

Além disto, o filme começou e terminou na hora certa. Deve-se ter bastante feeling para saber a hora certa. E foi o erro maior de “O Caminho das Nuvens” (Brasil, 2003, Vicente Amorim), com Cláudia Abreu e Wagner Moura (ainda desconhecido pelo grande público, se é que podemos colocar assim). O filme é magnífico, sobre a seca e o sertão, quase um “Vidas Secas”(obra da Graciliano Ramos, considerada um dos grandes relatos sobre a seca), mas bem melhor. Quando o vi, senti que algo estava estranho, mas não consegui identificar bem o que era. Algum tempo depois, participei de uma oficina com o roteirista do filme, David Mendes, e ele próprio apontou o erro: deveria ter terminado antes, quando os pais deixaram o menino antes de chegar ao Rio, para trabalhar em uma construção. O fato é que o filme era sobre o menino e não sobre a jornada dos pais. Sobrou informação e o filme é muito bom, exceto pelo final.

Troubled Waters começa com uma cena em que a Agente Especial Beck (cujo primeiro nome não se ouve) fracassa. Duas pessoas estão mortas. Daí, pula para uma cena três dias antes, o que significa que aquele poderia ser o final da história. Mas não era. Era por volta do ¾ do filme. E aí, outro detalhe sagaz: ao retorno da primeira cena, não houve repetição, nem de diálogos, movimentos ou mesmo de quadros. Fiquei até esperando a frase tipicamente americana se repetir: “God help us” (algo como “Deus olhe por nós”). Nada! Magnífico! Poucos roteiristas têm esta preocupação. Palmas para David Robbeson, o roteirista.

Um único pecado, e gravíssimo: não tinha um jeito melhor, que mostrasse mais a competência da agente, do que ela ser sensitiva?

Por fim, só fica uma pergunta, o que aconteceu há 6 meses atrás?

Apesar de tudo, recomendo. “Seqüestro sem pistas” está na locadora mais próxima de você!!!

(Troubled Waters, Canada, 2006, John Stead)

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